“Sou um milagre da ciência. Hoje tenho apenas metade
de mim. A outra metade os médicos já retiraram. Mas fiz um pacto com o
Senhor Deus. Mesmo querendo ficar mais um pouco, apreciar suas belezas,
curtir suas virtudes, serei o último a sair e a apagar a luz”.
Era assim, de forma bem humorada, que o jornalista Agnelo Alves
gostava de celebrar a maior de todas as suas paixões: a vida. “Eu amo
viver” foi a frase escolhida por ele para realçar o perfil de sua conta
no WhatsApp, aberta no dia 18 de junho de 2014, provavelmente por algum
assessor, uma vez que ele, mesmo tendo acesso às mais modernas
tecnologias da comunicação, em casa e no trabalho, ainda preferia
escrever na velha máquina de datilografia que adorna seu apartamento, na
praia de Areia Preta.
Nascido em Ceará-Mirim no dia 16 de julho de 1932, ano em que foi
instituído o voto feminino, Agnelo cresceu respirando política. O pai
era prefeito de Angicos quando ele nasceu; o irmão Aluízio Alves foi
deputado constituinte em 1946 e fez carreira política no Rio Grande do
Norte, sendo eleito governador em 1960. Agnelo seguiu os passos do
irmão. Foi prefeito de Natal, cassado pela ditadura militar, elegeu-se
duas vezes prefeito de Parnamirim, suplente de Senador e por duas
legislaturas foi uma das vozes atuantes na Assembleia Legislativa do RN.
De saúde frágil, raquítico, mas com uma inteligência privilegiada, o
menino Agnelo foi obrigado a abandonar os estudos no Colégio Marista. E
de uma forma dolorosa para qualquer adolescente. Numa entrevista para a
revista Palumbo, ele contou como foi: “Logo no primeiro ano de Marista
fui acometido de tuberculose. Fiquei nove anos afastado de qualquer
aglomeração. Não podia estudar em nenhum colégio. Naquela época, a
tuberculose era uma sentença de morte. Mas eu sobrevivi”.
Passou quase dois anos respirando os ares de montanha de Belo
Horizonte, para onde foi enviado a pedido do médico que o tratava. Em
1955, aos 23 anos de idade, conheceu a estagiária de serviço social,
Celina Aparecida Nunes, com quem se casou numa cerimônia simples na
Capela Santa Mônica, no Leblon, Rio de Janeiro,cidade onde nasceram dois
de seus três filhos – Agnelo Filho e Carlos Eduardo.
Foi repórter político na Tribuna da Imprensa, trabalhou no Jornal do
Brasil e no Diário Carioca. Depois de anos morando numa “república” no
Rio de Janeiro, foi indicado por José Aparecido de Oliveira para atuar
na assessoria de imprensa do presidente Jânio Quadros, juntamente com um
amigo da pauta política que também estava de mudança para Brasília: o
jornalista Carlos Castelo Branco.
De volta a Natal, engajou-se nas lutas políticas e no dia a dia do
jornal – a Tribuna do Norte -, fundado pelo irmão Aluízio Alves, a
exemplo do que fizera Carlos Lacerda no Rio de Janeiro, para fortalecer a
luta democrática. Sócio da empresa, Agnelo sempre disse que no
jornalismo nunca almejou ser mais do que “um repórter”. Tanto que,
durante anos, o título de uma das colunas semanais que assinou na TN foi
“Agnelo Alves, o repórter”.
Detentor de uma linguagem clara, estilo acurado e irreverente, Agnelo
exercitou no jornalismo a arte das entrevistas, da análise política e
do texto curto. Criou e imortalizou, durante as décadas de 1970 e 1980, a
figura do “Neco”, personagem que assinava as “Cartas ao Humano”, textos
de crítica de costumes, política e social com os quais exponha suas
análises, ideais e também desnudava a hipocrisia e o autoritarismo da
ditadura militar e dos governos estaduais nomeados por ela, driblando a
censura e a truculência do regime de exceção vigente no Brasil.
Ao ser entrevistado para a edição especial do 65º aniversário de
fundação da Tribuna do Norte, em março deste ano, Agnelo lembrou,
emocionado, a motivação inicial para o jornalismo político. “Carlos
Lacerda tinha a Tribuna de Imprensa no Rio de Janeiro e convidou Aluízio
Alves para ser redator-chefe. Certo dia ele perguntou a Aluízio por que
nós não fundávamos um jornal no Rio Grande do Norte. Fizemos uma
sondagem junto a algumas pessoas. Consultamos Aristófanes Fernandes e
envolvemos a UDN. Aí entraram, além de Aristófanes, Dinarte Mariz, José
Xavier da Cunha, Jocelin Villar e vários outros que não quiseram
aparecer, mas ajudaram.” E acrescentou: “Se fosse fazer um artigo sobre a
Tribuna do Norte eu diria: A Tribuna e eu fazemos hoje 65 anos de vida,
de luta, de resistência. Valeu a pena”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário