Em uma daquelas peças que o destino
prega, os moradores do Sudeste são vítimas hoje de provocações parecidas
com as que muitos costumavam fazer com os nordestinos. Tudo por conta
da falta de água que atinge a região e serve de combustível para uma
nova onda de piadas, agora voltadas principalmente contra os habitantes
do Rio e de São Paulo. Com humor, nordestinos e nortistas não perdoam a
atual crise hídrica nos Estados do Sudeste e acirram o bairrismo entre
as regiões. São muitas as postagens em redes sociais que fazem menção à
situação. Em um vídeo que viralizou na internet nesta semana, um garoto
do Acre toma banho com o jato do cano ao retirar a torneira da pia.
“Aqui é Acre, p… As meninas de São Paulo, sabem o que elas querem?
Banho!”, diz o menino. Segundo o Site Uol, em uma outra postagem,
moradores de Maceió (AL) tomam banho com um caminhão-pipa durante as
prévias carnavalescas e dizem que estão “ostentando” por terem água.
“Enquanto vocês criticam nós,
nordestinos, eu tomo banho de chuveiro. Claro que é com moderação”, diz,
em outro vídeo, o promotor de eventos Galisteu Matias, que reside em
Maceió. Mas qual é o limite entre brincadeira e ofensa? O professor de
direito e processo penal da Ufal (Universidade Federal de Alagoas),
Welton Roberto, avalia que, nos exemplos citados, não ocorreu nenhum
crime e, apesar do gosto duvidoso das piadas, estes casos não
caracterizam injúria.
“Só existiria crime se fosse postada
alguma agressão, como alguém chamando o outro de burro ou outro palavrão
que fosse, caracterizando a injúria penal. Mas brincadeira, mesmo sendo
de mal gosto, é brincadeira. Vejo que não atingiu de forma
discriminatória ninguém, nem atingiu a dignidade de ninguém”, diz
Roberto. O advogado afirma que quem se sentir ofendido por ter a honra
atingida em alguma postagem na internet deve salvar o material e
contratar um advogado para que seja feita a queixa-crime. O crime de
injúria é previsto no Código Penal e, em caso de condenação, a pena
varia de acordo com o grau da ofensa. Para o doutor em história social
pela USP (Universidade de São Paulo) e professor da UFPE (Universidade
Federal de Pernambuco), Michel Zaidan Filho, a rixa entre moradores do
Nordeste e do Sudeste é antiga e existe desde o início do século
passado.
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